A FOTO


2013-02-21

"A Foto e o reencontro meio século depois" em Viseu e no Youtube

Sobre a apresentação do livro "A Foto e o reencontro meio século depois", em Viseu, em 15 de Fevereiro passado, apareceu-me hoje na caixa de correio um vídeo, que aqui vos ofereço, sobre o evento escrutinável até ao pormenor nos posts que antecedem este.
Mas quem me enviou tal prenda? Pois nem mais nem menos que o Sr. "Alerta do Google" a quem deixo os meus agradecimentos mas não responde à minha interrogação: Quem fez o vídeo? Concluo, pelo anúncio, que terá sido o Solar do Vinho do Dão que simpaticamente nos deu guarida à apresentação e nos ofereceu uns copos no fim.
Agora aqui entre nós, off record, para escapar ao "Alerta do Google", se este tipo o Google sabe que eu gostaria deste vídeo certamente sabe muito mais a meu e a vosso respeito. E até onde? Até onde vai a devassa da nossa vida privada por este cavalheiro a que acresce agora, a bizarria das facturas com nº fiscal, a devassa Big Brother do Gaspar, do Passos, do Relvas e dos seus patrões da tróica?
Esqueçam. Foi um desabafo. Vejam o vídeo se vos apetecer. Em especial a nossa Mata Hari. (Isto da Mata Hari é mensagem cifrada, é só para a seita d' O LIVRO).



2013-02-19

A FOTO foi a Viseu

Gabriela, Raimundo, Mário, Pina, Noémia no adro da Sé de Viseu
O Zé Gomes de Pina, que no seu/nosso livro se apresenta sob as vestes de O BEIRÂO foi inexcedível no rigor, na organização  e na solicitude que se impôs na tarefa de anfitrião na romagem que os autores de A FOTO fizeram a Viseu para assistir aqui à sua apresentação em 15 do corrente Fevereiro.
Confirmámos que o Gomes de Pina é um apaixonado pela sua terra natal, a bela cidade de Viseu e após a visita guiada que por ela nos ofereceu confirmámos que a vetusta e simultaneamente moderna capital das Beiras é credora do maior apreço.
Eram quatro os carros com os autores e editor que rumaram à terra de Viriato, na manhã de 15 de Fevereiro. Confortados, ao almoço, com o leitão de Bairrada aportámos ao hotel em que Pina nos reservara assento bem a tempo para um aprazível café na esplanada do jardim Tomás Ribeiro, no Rossio, antes da nossa partida para o Solar do Vinho do Dão.
Não vale a pena dizer, a cada passo, quem reservou hotel, quem obteve a sala do Solar, quem escolheu os excelentes restaurantes e reservou as mesas, quem convidou os apresentadores, quem atraiu a assistência, quem nos guiou pelos museus e pela arte sacra da igreja de S. Francisco ou da Sé de Viseu. Foi o Pina. Foi tudo o Pina com o cunho de excelência, com o profissionalismo inexcedível de que ele tem o segredo.
No Solar do vinho do Dão fomos recebidos e acompanhados, com charme e simpatia, na sessão de apresentação e na prova de vinhos pela Drª Rita Barros .
A Sala estava cheia. As cadeiras da 1ª fila prudentemente, mas sem razão, deixadas vazias pela assistência foram compensadas por quem em pé, lá ao fundo, dispensou assento. Na mesa, comprida de dez lugares, os autores tinham o aspeto próprio de consagrados escritores e os apresentadores, julgando talvez ser para isso que os convidaram, garantiram a qualidade literária e o alcance histórico da obra com argumentação à prova do mais reticente ceticismo.
De acordo com o cânone falou em primeiro lugar o editor da Âncora, o Dr. António Baptista Lopes que revelou a importância cultural do livro, quão indispensável ele era na biblioteca de cada um dos presentes. O discurso foi bonito, que ele está muito treinado nestas andanças, não disse precisamente aquilo mas foi o que eu, aprovando, entendi. Falou em seguida em nome dos autores, o nosso anfitrião José Gomes de Pina que discorreu sobre o livro e a sua génese e agradeceu a participação dos presentes muito especialmente a pronta disponibilidade dos apresentadores do livro que, como viseenses ilustres, justamente enalteceu.
O primeiro a apresentar A FOTO foi o Coronel Fernando Figueiredo um conhecido e estimado militar de Viseu, atento à realidade da sua terra e do país bem refletida no seu blogue Viseu Senhora da Beira. A publicação aqui da sua intervenção, dois posts abaixo, dispensa-me de a referir mas não de sublinhar quanto a apreciámos. Com a sessão de apresentação, o jantar em comum e o convívio que proporcionaram, posso dizer sem errar, que ficou para nós um amigo.
Por último falou o ex-ministro da Saúde, Professor Doutor António Correia de Campos, cidadão ilustre de Viseu. Poderia referir a excelência do seu trabalho como ministro, ou a atividade que desenvolve a partir do Parlamento Europeu, ou a pedagogia cívica e política dos seus artigos de opinião com que melhora o jornal O Público mas tudo isso é bem conhecido e poderia ser tomado por retórica parcial. A sua intervenção cativou a todos como era de esperar de um político íntegro munido de sólida cultura.
 
O Jantar que se seguiu com uma boa parte da assistência e os nossos amigos que apresentaram o livro contou com a presença mas num outro grupo, do autarca mais conhecido da região, Fernando Ruas. Creio ter sido obra do acaso e não um preciosismo do anfitrião Gomes de Pina cioso em nos mostrar tudo, Viseu e as autoridades de Viseu. Uma referência especial tem de ir, no entanto, para a bela voz de Glória Paiva, uma fadista local que sabe cantar e animou o momento.
A manhã de Sábado - pela mão do Zé Pina, já se sabe - levou-nos ao bonito Parque da Cidade, muito limpo e bem arranjado, depois ao grande e belíssimo monumento que é a Sé de Viseu. Logo ali ao Lado esperava-nos o Museu Grão Vasco, já de todos conhecido, mas que voltámos a visitar com renovada curiosidade. A grande referência do museu é a obra de Vasco Fernandes – o Grão Vasco, grande mestre do sec. XVI, que está na origem da “escola de Viseu”  e a da sua oficina coletiva.
Fomos beneficiados na visita pelo profissionalismo da técnica do museu Hélia Cabido que com simpatia nos ia revelando pormenores ou sublinhando aspetos mais marcantes da obra de Vasco Fernandes ou de Gaspar Vaz. Revisitámos obras tão belas como «S. Pedro», «Pentecostes», «Anunciação», a «Ceia», os catorze painéis que engrandeciam a capela-mor da Sé, parte de um conjunto maior do qual os outros levaram sumiço. Não ficámos pelos mestres quinhentistas e apreciámos a pintura maneirista e naturalista do século XIX e XX, quadros de José Malhoa,  Columbano Bordalo Pinheiro ou Silva Porto.
Tantos séculos de pintura despertou-nos uma irresistível fome que não apanhou desprevenido o nosso infatigável Gomes de Pina que logo ali nos encaminhou para o restaurante Santa Luzia, uma referência na região que produziu o milagre de nos oferecer tais iguarias que jurámos arranjar novos e bons pretextos para lá voltar. A alta qualidade, informei-me, é garantida por dois irmãos, os donos do famoso restaurante, cujas esposas na cozinha dão vida à magia gastronómica.
 
Apaziguados os estômagos e rendidos às artes culinárias do Santa Luzia o Pina não nos deixou partir para Lisboa sem uma visita, mesmo que rápida, ao Museu do Quartzo – Centro de interpretação Galopim de Carvalho, no cimo do monte  de Stª Luzia que oferece do seu miradouro um bonita vista da cidade. O Museu recupera o espaço degradado pela exploração de quartzo iniciada há mais de quatro décadas. O museu para além de uma boa coleção de cristais de quartzo da exploração local está apetrechado de moderno equipamentos multimédia interativo que suscita um salutar apelo ao conhecimento da Geologia e até das entranhas do planeta terra. Disponibiliza também um laboratório, em sala ao lado, em que se podem testar as principais características do quartzo. O museu oferece visitas guiadas grátis a grupos de alunos mediante marcação e que constituirão sem dúvida uma experiência didática inesquecível.
 
No regresso a Lisboa dei por mim a meditar que, dada a excelência do que Viseu e a Beira oferecem não terá sido por acaso que o Pina terá escolhido o título de O BEIRÃO para a sua prestação no nosso livro.
_______
Nota: Só depois de publicado este post o Gomes de Pina me revelou que afinal o jantar que acima descrevo tinha outra génese era um jantar organizado pelos seus seus amigos e ex-colegas finalistas do liceu de 1959, que assim o quiseram surpreender. E a nós.

________________________
 
 
Precedendo o lançamento do livro A FOTO em Viseu, na semana passada, o Jornal do Centro que se publica nesta cidade fez referência ao evento como podereis ver na imagem.

2013-02-18

O BEIRÃO em Viseu, no Solar do Vinho do Dão

O BEIRÃO é, como muitos já sabem, o nosso amigo José Gomes de Pina, co-autor do livro A FOTO que nesta 6ª feira, 15 de Fevereiro, de 2013 teve o seu lançamento em Viseu, nas instalações do Solar do Vinho do Dão. São dele as palavras que se seguem e então nos ofereceu, em representação dos autores, na cerimónia da apresentação do livro.   



Meus Caros Amigos
 
Em nome dos oito autores do livro “A FOTO e o Reencontro Meio Século Depois”, cabe-me, aqui em Viseu, na minha terra natal, o que me enche de orgulho e grande alegria, saudar todos os presentes, onde reconheço tantos amigos, colegas do Liceu e familiares, e dar-vos as boas-vindas nesta sessão de apresentação e divulgação do nosso livro, à semelhança, aliás, do que o Raimundo Narciso, a Teresa Tito de Morais e o Mário Lino já fizeram nas sessões realizadas anteriormente.
O livro foi editado em Junho de 2012 e a sessão de lançamento realizou-se em 11 de Junho no Salão Nobre da Reitoria da Universidade de Lisboa, contando com as intervenções do Dr. Jorge Sampaio e do Reitor, Prof. Dr. Sampaio da Nóvoa.
A apresentação em Coimbra foi feita no dia 19 de Novembro, com a participação de Manuel Alegre e do Prof. Dr. José Manuel Pureza e no Porto, no dia 30, com intervenções do Dr. José Ilídio Ribeiro e do Prof. Dr. Augusto Santos Silva.
Agradecemos à Comissão Vitivinícola Regional do Vinho do Dão e ao seu Presidente Dr. Arlindo Cunha a disponibilidade e o apoio manifestados com a cedência do Solar do Vinho do Dão, situado no Parque do Fontelo, incluindo um Dão de Honra, a fazer jus ao vinho que tem levado Viseu e a sua região por esse mundo fora. Uma palavra de simpatia para a Dr.ª Graça Silva e à Dr.ª Rita Barros pela sua eficiente contribuição e empenho inexcedível na preparação desta sessão.
Renovar os nossos agradecimentos à Editora Âncora e ao Dr. António Baptista Lopes que desde o primeiro contacto nos acolheu com grande entusiasmo, incentivando a conclusão do livro e permitindo, com a sua publicação, a concretização do nosso projecto.
Aproveito também para agradecer ao Jornal do Centro, de quem sou, aliás, leitor habitual on-line, e a alguns blogues, como é o caso do Olho de Gato, O Viseu, Tribuna de Viseu e do Indo eu, Indo eu…, que além do VSB, também divulgaram o nosso convite. 

A apresentação do livro nesta sessão vai ser feita pelo Coronel Fernando Figueiredo e pelo Prof. Dr. António Correia de Campos, também eles ligados por fortes laços a Viseu e a quem os autores manifestam, desde já, o seu muito apreço e agradecimento.

Só acabei por conhecer pessoalmente o Coronel Fernando Figueiredo há relativamente pouco tempo, quando, finalmente, nos pudemos encontrar em Lisboa, após anos de contactos frequentes através do Viseu Senhora da Beira, em minha opinião, o blogue de referência em Viseu.
O autor propunha-se abrir “um olhar crítico, independente e exigente sobre as terras e gentes da região de Viriato” e, de facto o blogue VSB veio a constituir uma autentica pedrada no charco do marasmo da vida local, numa cidade do interior do país, tradicionalmente conservadora.
Tendo feito inicialmente comentários esporádicos noutros blogues de Viseu, acabei por encontrar neste blogue, campo para uma intervenção mais frequente, pelo que, quando comemorou os oito anos de existência, enviei este comentário:
“Meu caro Bazookas (durante muito tempo o autor do blogue, que se dava a conhecer por este pseudónimo, designando cada comentário por uma “bazookada”, constituía uma incógnita quanto à sua verdadeira identidade, desvendada somente, há cerca de três anos, quando este prestigiado militar o pôde legalmente fazer, após a sua passagem à reserva):
Não me tinha dado conta do tempo que já passou, afinal tanta água que foi correndo por baixo das pontes do Pavia... No meu primeiro comentário feito no seu blogue, em Março de 2005, dizia eu ao meu amigo:
...Realmente a minhas felicitações vão para quem teve a iniciativa de abrir um espaço onde, de certo modo, se vai expondo e provocando, julgo eu na pretensão de estimular o seu concidadão a discutir questões mais sérias e algumas outras só de simples actualidade. Mas também, e isso tocou-me, pelo seu demonstrado amor a Viseu, consciente e interventivo.
E aludindo à minha crescente intervenção no blogue, justificava-me, dizendo-lhe:
"...pois entendo ser também meu dever contribuir de forma honesta e interessada para o debate cívico. E o seu blogue, na maioria dos postes apresentados, cumpre bem esse objectivo, para além do debate se centrar nos grandes problemas de Viseu e assim podermos interagir com os nossos conterrâneos, na reflexão conjunta sobre algumas realidades, de que cada um, claro, terá a sua própria visão. Como pode ver, passados estes “breves” oito anos, o VSB cá está cumprindo o seu papel, alargando os horizontes do debate local, tradicionalmente fechado e pobre, trazendo à blogosfera local uma dinâmica diferente, mexendo com as pessoas, incomodando-as, desinibindo o diálogo, afoitando-as, dando-lhes oportunidade para uma abertura de espírito a que não estavam habituadas.
E isto o meu amigo foi fazendo, à custa de muito suor, por certo, que estas coisas não nascem feitas! Que grande “bazookada” o meu amigo deu nesta cidade...Como viseense, vivendo longe, o meu muito obrigado por tudo isto e que mantenha o ânimo e o empenho de sempre.
Um grande abraço do Beirão (é este o pseudónimo que utilizo)".

Ora quando as pessoas fazem amizade pelo que pensam e escrevem, concretizando na “blogosfera” esse entendimento, mesmo não se conhecendo pessoalmente durante tanto tempo, que mais posso dizer?... Direi somente que foram estas as razões que dei aos meus amigos autores para formularmos o convite ao Fernando Figueiredo, que eles não conheciam, para apresentar o nosso livro em Viseu, conjuntamente com o António Correia de Campos.
 
O Coronel de Infantaria na Reserva Fernando Figueiredo é licenciado pela Academia Militar com o Curso de Ciências Sócio Militares. Possui ainda vários cursos e estágios e uma pós-graduação em Gestão de Recursos Humanos. Ao longo da sua carreira prestou serviço em diversas Unidades e Estabelecimentos do Exército, tendo desempenhado nos últimos anos, entre outras, as funções de Chefe de Repartição da Divisão de Pessoal do Estado Maior do Exército, de 2.º Comandante do RI 14, em Viseu e de Comandante do RI 3, em Beja.
Cumpriu missões internacionais, ao serviço da ONU, em Timor-Leste, como Comandante do 2.º BI/BLI e ao serviço da NATO, no Iraque, como National C2 Advisor no Centro de Operações Nacional, junto do 1º Ministro Iraquiano.
No foro civil, foi membro do Centro Distrital de Operações de Protecção Civil de Viseu e Guarda e do Núcleo Distrital do Projecto Vida de Viseu, Presidente e Fundador do Clube de Orientação de Viseu e membro dos Corpos Sociais da Federação de Andebol de Portugal. Formador em diversos cursos do CFP de Viseu, conferencista em diversas acções do Ensino Superior Universitário, é autor do blogue Viseu Senhora da Beira e colaborador regular do Jornal do Centro.
 
Concluo, lendo um excerto que retirei de um poste recente do Fernando no VSB, por certo um desabafo seu, por algum paralelo com atitudes que, noutros tempos e noutro contexto, também os autores da FOTO tiveram de tomar:
Dizia ele… “recordar que cabe às oposições, ontem como hoje, escrutinar o poder. Não há oposição sem escolher o “lado”. Mais do que ser de um partido, é preciso “tomar partido”!
"…O cidadão, o viseense, deseja saber mais, participar mais e avaliar por si se, de facto, as diferenças económicas e sociais estão diminuindo ou se, pelo contrário, quem nos governa apenas se governa a si próprio e aos seus!
Entretanto, sem uma oposição capaz de desmistificar tudo o que seja mera justificação publicitária do poder e de chamar a atenção para os valores fundamentais da sociedade democrática, só poderão ocorrer mudanças nas piores condições, isto é, quando o desespero das pessoas se transformar em coragem e acabar por incendiar este palheiro podre da partidocracia.
No mundo contemporâneo este caminho do escrutínio do poder começa finalmente a despertar na sociedade, através dos blogues, twitters e redes sociais, enfim, envolvendo um processo global.
E as oposições políticas, se nada tiverem a ver com as múltiplas demandas do quotidiano, como arranjarão forças para ganhar a sociedade? Não ganham, como é lógico, mas obrigam um coronel na reserva a ser activo na oposição… para mal dos meus pecados… "
 
O segundo apresentador do nosso Livro é o Prof. Dr. António Correia de Campos, ilustre viseense, meu particular amigo desde os tempos dos bancos da escola e do liceu, figura pública mais que reconhecida e que nos tem entrado frequentemente em casa, através da sua intervenção cívica, quer como ministro, deputado ou como comentador politico em muitos e interessantes debates televisivos.
Reconhecer-lhe as suas grandes qualidades humanas, de cidadão exemplar, profissional emérito, politico interventivo, não virando a cara na luta pelos seus princípios e ideais, amigo do seu amigo e ainda por cima beirão como eu, é para mim uma dupla satisfação e orgulho vê-lo aqui como apresentador do nosso livro.
 
Não posso também de deixar de vos ler o email que então dirigiu a mim e ao Mário Lino, a propósito da leitura que tinha acabado de fazer do livro A FOTO:
"Meus caros Zé Gomes de Pina e Mário Lino,  
Li o vosso livro integralmente, numa viagem a Chipre. Gostei imenso e por várias razões:
A proximidade com os meus sonhos, anseios e realizações, muito semelhantes aos vossos, naquelas idades, pelo menos, e creio que também agora.
A nossa origem social muito próxima: filhos de professores do ensino primário, de sargento e de pequeno comerciante, afinal a típica classe média em ascensão, na época.
A variedade de experiências de vida e a franqueza quase ingénua com que todos se desvendaram.
O sentido de fraternidade que perdura ainda nas vossas relações actuais.
Tinha o livro em cima da minha mesa quando tive um encontro de trabalho com uma técnica da nossa Representação Permanente que à saída me confessou ser filha do Eng. Rui Martins, também constante da foto, o que prolonga a rede para as gerações seguintes.
A qualidade literária da escrita, que atinge tons novelescos nos depoimentos do Letria e do Narciso, mantendo todos um alto nível, mesmo quando se preocuparam sobretudo com a descrição dos contextos.
Finalmente, a ideia de que a nossa juventude tinha causas e valores.
Como vedes, muitos elementos justificam o mérito da vossa iniciativa. Tenho pena de não conseguir inserir-me em uma semelhante.
Parabéns a todos e todas com natural permissão de circularem esta mensagem a quem entenderem. E obrigado ao Zé Pina pelo livro e dedicatória.
Abraço amigo / António Correia de Campos".

O António, filho varão do Professor David Campos (que felizmente já ultrapassou o centenário, continuando rijo e a tratar ainda da sua quinta em Figueiró), fez a sua instrução primária e grande parte do liceu em Viseu, tendo ido para Moçambique, no início do nosso sexto ano do liceu (1957), acompanhando a deslocação do seu agregado familiar (mas isso não impediu, quando comemorámos, em 2009, os 50 anos do nosso curso de finalistas do Liceu de Viseu (1952-1959), que estivesse presente, com grande satisfação, como um dos nossos, como pode ser testemunhado pelos muitos colegas aqui presentes).
Regressado à Metrópole, enquanto estudante universitário, empenhou-se activamente no movimento associativo estudantil, tendo sido membro da Direcção da Associação Académica da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, donde foi expulso em 1962, na sequencia da crise académica e do processo da greve da fome. Transitou para a Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, tendo chegado a ser eleito (em 1963) Presidente da Associação Académica, cargo que no entanto não viria a ser oficialmente homologado pelas autoridades académicas.
Licenciou-se em Direito, tendo feito uma especialização como Administrador Hospitalar na Escola de Rennes, em França (1969), um mestrado em Saúde Pública na Universidade de John Hopkins, nos EUA (1978) e o Doutoramento em Saúde Pública pela  Universidade Nova de Lisboa (1982).
Em 1975 foi escolhido para integrar o V Governo Provisório, desempenhando funções de Secretário de Estado do Abastecimento num período muito curto e em 1979 como Secretário de Estado da Saúde do V Governo Constitucional.
Aderiu em 1984 ao Partido Socialista, pelo qual foi eleito deputado à Assembleia da República em 1991, tendo presidido à Comissão do Livro Branco da Segurança Social entre 1997 e 1998.
Em 2001, foi nomeado Ministro da Saúde, por iniciativa do primeiro-ministro António Guterres, abandonando então o cargo de Presidente do Instituto Nacional de Administração, que ocupava desde Janeiro de 1997. Entre 2000 e 2001, foi Presidente do Conselho Científico do Instituto Europeu de Administração Publica, em Maastricht, na Holanda.
Após a demissão do governo, em Abril de 2002, Correia de Campos foi nomeado Presidente do Conselho Científico da Escola Nacional de Saúde Publica, da Universidade Nova de Lisboa, onde já era professor catedrático, tendo proferido a sua ultima lição em 13 de Abril de 2012.
De Março de 2005 a Janeiro de 2008 integrou o governo de José Sócrates, à frente do Ministério da Saúde. Presentemente é deputado ao Parlamento Europeu (desde Junho de 2009).
Especialista em Saúde, nomeadamente na ligação desta área com a Economia, Segurança Social e Administração Pública, é autor de vários livros e dezenas de artigos publicados na imprensa nacional e estrangeira.

Meus Caros Amigos

Agora quanto ao nosso livro. Repetindo um pouco o que já foi dito nas anteriores sessões, tudo começou por uma fotografia amarelecida pelo tempo que a Noémia, algures em 2010, encontrou no seu baú de recordações, foto tirada no Instituto Superior Técnico, seguramente no ano de 1963, viu-se depois, durante um jogo de futebol entre amigos, dezasseis rapazes e uma aguerrida claque de cinco bonitas jovens.
Sobre esta foto, há coisas que sabemos e outras que não sabemos, ou de que já não nos conseguimos recordar.  
Sabemos que dos vinte e um estudantes que estão nesta foto, doze rapazes  eram do Técnico (Albano Nunes, António Redol, Carlos Marum, João Resende, José Gameiro, já falecido, José Gomes de Pina, João Santos Marques, Luís Bénard da Costa, também já falecido, Mário Lino, Mário Neto, Raimundo Narciso e  Rui Martins), um da Faculdade de Ciências (Ernâni Pinto Basto), um da Faculdade de Medicina (Jaime Mendes) e dois do último ano dos liceus (Joaquim Letria e Fernando Rosas).
Quanto às raparigas, uma era da Faculdade de Ciências (Paula Mourão) e três do último ano dos liceus (Marília Morais, Noémia Simões, agora de Ariztía e Teresa Tito de Morais). Desconhecíamos quem era a quinta rapariga, precisamente a que, na foto, está no meio das outras, a quem, por graça e pelo mistério, passámos a designar por “Mata-Hari”. Mas desde o final do mês passado que uma pista dada por um amigo pode conduzir a uma hipótese credível de ser também uma estudante liceal da altura, colega das restantes. Como ainda não se acusou, lá teremos de a obrigar a confessar…
E também ainda não sabemos quem tirou a foto, nem qual foi o resultado do jogo.
Voltando à Noémia e à foto, como já não se lembrava de algumas caras ou desconhecia outras, digitalizou-a, enviando-a por email ao Jaime Mendes, que, pelas mesmas razões, a reenviou ao Raimundo Narciso. Analisada por ele, teve a ideia de procurar reunir, de novo, todos os que para ela posaram, com o objectivo de fazerem um balanço das suas vidas e de gozarem a alegria de se reencontrarem. Para isso distribuiu a foto, também por email, aos que não tinha perdido o rasto, a maioria dos quais frequentara, nessa época, uma tertúlia no café Pão de Açúcar, na Alameda Afonso Henriques, escrevendo:  
“…a fotografia dos colegas de 1963 sugeriu-me a ideia de fazermos um livro. Digam-me o que vos parece ideia tão insensata.” E propunha ainda “um livro escrito a tantas mãos quantas os que, entre nós, se atrevessem a tanto”, interrogando-se:
“Interessaria aos mais novos, à geração dos nossos filhos e netos, conhecer, através de vivências e percursos de vida tão díspares, uma ponta desse mundo tão próximo e tão ignorado?”
 
Tratavam-se, de facto, de amigos ou colegas, activistas dos movimentos associativos estudantis que desenvolviam uma luta muito determinada, no plano cultural e político, contra a ditadura salazarista. Vários deles exerciam ou vieram a exercer funções dirigentes nos respectivos órgãos associativos. Com excepção de quatro ou cinco, todos eram, ilegal e secretamente, militantes do Partido Comunista Português, alguns deles já com responsabilidades organizativas.

A comunicação por email parece ter sido o sinal de partida. Ao fim de algum tempo já tínhamos praticamente conseguido estabelecer comunicação entre todos e os primeiros contactados aderiram à ideia com entusiasmo. Uns, pela proposta do livro e outros, pela ideia do convívio que restabeleceria, nalguns casos, pontes de anos ou de dezenas de anos entre vidas desencontradas, onde a política, a luta contra o regime, a clandestinidade, as prisões, os exílios e percursos por quatro continentes, a própria actividade profissional e a luta pela vida, tinham fraccionado o grupo daqueles jovens em múltiplas bolsas de amizades."
Estava lançado o desafio e em marcha, finalmente, o projecto do livro!
O primeiro encontro deu-se, em Abril de 2010, na casa de campo do Jaime e da Teresa, perto de Santarém. Compareceram doze ex-jovens, incluindo maridos e mulheres, todos com a cabeça ainda fresca e levantada. Trouxeram vinhos e sobremesas, conversaram, comeram e beberam, enchendo a casa de alegria.
Alguns já não se viam há quase meio século, sabíamos uns dos outros pelas notícias, poucos mantinham relações próximas. Mas parecia que o tempo não tinha passado por nós. O sentimento reinante foi de uma imediata e grande cumplicidade. Marcados por experiências diversas, permanecíamos unidos por aquilo que nos tinha juntado antes, a luta por um país melhor, com liberdade e democracia.

Ao longo de quase dois anos seguiram-se outros encontros, na tentativa de planearmos o livro, escolher o título, o formato, o número de páginas, os currículos e as fotos a incluir, etc., mobilizar vontades para a escrita, marcar objectivos, datas e acompanhar a sua evolução.
Por razões várias, apenas oito acabaram por participar como autores do livro A FOTO.
 
Nele revisitámos meio século das nossas vidas, encontros e desencontros, amizades e alheamentos, trajectos que não se cruzaram, amores, casamentos, compromissos, roturas, dú­vidas, actividade politica e profissional, vidas não coincidentes.
É, portanto, um livro de memórias, de uma geração em que muitos se bateram pelos valores da liberdade, do progresso, da justiça social, e que continuam unidos para que estes valores não se percam, antes se consolidem e aprofundem.
Mas estamos convencidos que a ética e os valores que defendemos permanecem actuais e universais, e que hoje, tal como ontem, as novas gerações também determinarão o seu próprio caminho, encontrando a melhor forma de se organizar em sociedades livres, justas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas.
 
Um Bem-Haja a todos.

Fernando Figueiredo apresentou "A FOTO" em Viseu

O Coronel Fernando Figueiredo, apresentou, com o Prof. Doutor António Correia de Campos o livro "A FOTO" no Solar do Vinho do Dão, em Viseu, em 2013-02-15.
A quem nãpo conheça e queira conhecer Fernando Figueiredo aconselho a leitura do post com a intervenção do José Gomes de Pina no mesmo evento e que será publicado a seguir a este. Ou então, ou então... uma visita ao seu já famoso blog Viseu Senhora da Beira.

 
 
Eis o que o Cor. Fernando Figueiredo disse na sua apresentação:

" Quando em 2004 descobri o mundo da blogosfera, o cidadão Fernando Figueiredo tinha por ideia aproveitar destas novas ferramentas de informação e criar um espaço onde pudesse ir retratando a cidade. Os primeiros posts foram inócuas descrições de lugares da cidade, figuras históricas, fotos e outras opiniões sem qualquer preocupação de análise mas tão só vulgares copy past do que já existia na internet e o Blogger permitia reunir no mesmo endereço. Mas, há sempre um mas, um comentador com o pseudónimo Beirão cedo marcou presença assídua no blog e mais depressa ainda com os seus assertivos, desapaixonados e ajustados comentários conduziu a que o VSB seguisse um outro caminho. Daquele quadro histórico e olhar fotográfico da cidade o Beirão conseguiu convencer o autor do VSB a ter “do alto da Sé, à luz dos valores do herói lusitano, um olhar critico, independente e exigente sobre as terras e gentes da região de Viriato. Com as referências do passado, as preocupações do presente e a esperança no futuro, caminhar em conjunto nesta encruzilhada de gentes e vontades beirãs da Cidade de Viseu teria de ser a sua marca!”
Ora, ao passar a ter uma intervenção mais activa de cidadania participativa na cidade que corresse até o risco de ser entendida como opinião politica não poderia por razões estatutárias deixar de o fazer na clandestinidade e a escolha do Bazookas como pseudónimo aconteceu naturalmente. Militar a querer não perder a cidadania só o poderia fazer protegido do “fogo adversário” e munido de armamento factualmente dissuasor. Na ocasião dizia-me até em jeito de graça um General a quem confessei tal desconforto de não me quer privar de participar na vida da cidade e ter que o fazer desta forma que se pode militarizar um civil mas civilizar um militar é tarefa mais difícil porque a farda cola-se à pele. E o blogue lá foi avançando, ganhando notoriedade, alguns amigos e muitos outros pouco amigos, espaço de debate, de denúncia, de controvérsia mas sobretudo tornou-se uma ponte entre aqueles que obrigando-se a sair da cidade, porque para eles se tornou pequena, nunca deixaram de a transportar consigo nas suas preocupações. E foram esses, e em especial o Beirão, que nunca deixaram que o espaço fechasse portas como tantas vezes o tentei fazer e outras tantas me apeteceu pela incompreensão ou ingratidão que por este ou aquele motivo fui encontrando, dado que não sendo detentor da verdade também nesta ou naquela ocasião terei sido injusto ou mesmo ingrato com um ou outro assunto ou visado nele.
Anos mais tarde a passagem à reserva por minha livre escolha antecipando igual decisão do Papa e contrariando a norma geral de quem vive alapado ao poder e dele vive como se coisa sua se tratasse, permitiu trocar a bazooka pela caneta e dar a cara além do corpo às balas. Curiosamente, dizem-me que hoje incomoda mais a caneta desta minha faceta de cidadania interventiva que a bazooka de tempos idos, mas enfim, eu também ainda não me habituei à ideia de encontrar na política quem se arrogue a limitar a liberdade de expressão daqueles que em Abril de 74 lhe devolveram esse valor maior da democracia. Outra curiosidade que aqui partilho convosco é a de saber onde raio me irão colar politicamente agora depois de me saberem envolvido neste evento com os “duros” da foto!
Adiante, pois, foi assim já como activo cidadão na reserva militar que tropecei um dia numa foto e surpresa das surpresas, o Beirão de pseudónimo era também ele um viseense activo na sua cidadania e possuidor de uma história de luta pela liberdade.
Fiz esta curta alusão ao VSB para perceberem do paralelismo com este grupo de oito jovens que, com mais treze outros, tiraram uma fotografia de circunstância, em 1963, no campo de futebol do I.S.Técnico e que também parte deles viveram na clandestinidade sem nunca se privarem do direito e dever de lutar por um Portugal livre e democrático. São eles que, tal como o VSB serve de ligação com os viseenses espalhados pelo global espaço cibernético, também servem de ponte com o Portugal de ontem e de hoje.
São eles que nos contam da “sociedade tacanha e retrógrada (…) (que) não aceitava facilmente os jovens a intervirem e a contribuírem para as grandes mudanças que se avizinhavam como certas” ou da “prossecução da utopia e a confiança num futuro melhor pelo qual vale a pena lutar.
São eles que nos contam “do medo que todos os dias de mansinho se insinuava nas vidas de quem não fora feito para estas vidas” retratando o Portugal daquele tempo da ditadura.
Significativo ainda, no livro que hoje aqui se apresenta aos viseenses, se mostre como a política era, mais que tudo, um compromisso de estar com os outros e tecer com eles laços de cumplicidade no desiderato de um futuro comum. Apesar das diferenças, havia muito que os unia e um Portugal inteiro a reclamar progresso dependia dessa comunhão de interesses.
Viseu também surge neste livro retratada pelo Gomes de Pina, o viseense, mostrando a vida na cidade de então, as tradições, o pensar dos seus habitantes, a vida do jovem que se obriga a estudar em Lisboa sem esquecer a cidade. Anos depois o Beirão do VSB continua a participar com as suas diferentes opiniões no desiderato de uma Viseu mais desenvolvida, sustentada e projectada no futuro com mais emprego, bem estar e qualidade de vida para além do betão e da flor da rotunda que garantam que outros Gomes de Pina não precisem de encontrar em Lisboa nada que Viseu não lhes possa oferecer. É nesta diversidade que mais não adianto para não vos roubar o prazer da leitura, que Gomes de Pina situa a necessidade de discutir a cidade e que mostra que, apesar das nossas diferenças, Viseu tem que ser um projecto comum, aparte das politiquices e visão rotundista que alguns dos responsáveis pela sua gestão autárquica ainda teimam em manter.
Citando José Manuel Pureza a propósito deste livro, também eu infelizmente comungo da ideia que “daqui a 50 anos, um livro escrito por oito jovens activistas de hoje não terá estas referências. Falará de precariedade, de desilusão, de emigração. Talvez fale da democracia como uma promessa sempre querida.”
Cada um dos autores desta foto local e nacional acabou por escolher diferentes caminhos partidários, mas há um tempo que lhes foi comum, uma ética que ultrapassa partidos e esse é o grande legado que neste livro, na minha óptica, deixam às gerações vindouras.
É por isto que lhes fico grato e é por esta oportunidade de convosco o partilhar que lhes deixo o meu beirão Bem Hajam!

2013-02-11

José Manuel Pureza e A FOTO

José Manuel Pureza foi um dos apresentadores do livro A FOTO em Coimbra e as palavras, repassadas de simpatia, que dedicou aos autores a todos sensibilizou sobremaneira. Agora oferecemo-las aos leitores do blog e do livro porque se elas dizem muito sobre aqueles anos 60 amortalhados pela ditadura dizem também muito, indiretamente, sobre quem as diz.
 
Eis o que José Manuel Pureza disse em Coimbra, em 19 de Novembro de 2011:
Raimundo Narciso começa o seu capítulo neste livro citando um excerto de Sophia de Mello Breyner Andresen. É belíssimo e é uma belíssima síntese do espírito e do conteúdo deste livro. Diz assim: “Este é o amor das palavras demoradas / moradas habitadas / Nelas mora / em memória e demora / o nosso breve encontro com a vida”.
 
O livro que aqui estamos a apresentar assume esse propósito de resgatar, em memória e demora, o breve mas denso encontro com a vida de oito jovens que, com mais treze outros, tiraram uma fotografia de circunstância, em 1963, no campo de futebol do Técnico. A revisitação desta fotografia é um exercício muito semelhante ao que o Professor Keating – personagem imorredoura de “O Clube dos Poetas Mortos” – fez com os seus alunos: ao olharem intensamente para as fotografias dos antigos alunos da academia de elite que agora frequentavam, os alunos de Keating ouviam os sussurros insistentes de “carpe diem” como desafio às suas vidas. Assim também nós, os leitores de “A Foto”, olhamos para a fotografia que motivou a escrita e ouvimos distintamente o Jaime Mendes, a Noémia de Ariztía ou o Joaquim Letria a falarem-nos da “sociedade tacanha e retrógrada (…) (que) não aceitava facilmente os jovens a intervirem e a contribuírem para as grandes mudanças que se avizinhavam como certas” – como escreve Teresa Tito de Morais – ou da “prossecução da utopia e a confiança num futuro melhor pelo qual vale a pena lutar; (…) (do) sentimento da importância da nossa ação individual e coletiva; (ou da) vivência da generosidade e do companheirismo, da alegria de viver, pensar e agir” – como escreve Mário Lino. Tirada no Portugal cinzento escuro em que se estudava para ter um modo funcionário de viver – e em que, como escreve Raimundo Narciso, “pior que os sustos era o medo que todos os dias de mansinho se insinuava nas vidas de quem não fora feito para estas vidas” – a foto traz sussurros de um claro carpe diem pronunciado no Português da primeira metade da década de sessenta.
É significativo que se trate de uma rememoração coletiva. Porque isso mostra como a política era, mais que tudo, um compromisso em que estar com os outros e tecer com eles laços de cumplicidade fundos era essencial. Tão essencial que esses laços perduraram no tempo e não foram abalados pelos diferentes caminhos partidários depois percorridos pelos rostos da foto. É que esses rostos não nos falam apenas de um tempo que lhes foi comum, mas de uma ética que partilharam. Daqui a quarenta e nove anos, um livro escrito por oito jovens ativistas de hoje não terá estas referências. Falará de precariedade, de desilusão, de emigração. Talvez fale – espero eu – da democracia como uma promessa sempre querida.
Recordar vem do Latim: re-cordis, voltar a passar pelo coração. Recordar as palavras e os gestos de desassombro diante da ditadura, recordar o que custou cada rutura com os cânones bafientos, recordar cada passo da aprendizagem da democracia muito antes da sua conquista política e do sentido da combinação fecunda entre a irredutível liberdade de cada um e o primado do coletivo, recordar também as trivialidades do quotidiano (o piano de Mário Lino, o Volkswagen carocha de Noémia de Ariztía avariado na auto-estrada alemã ou a má relação de Jaime Mendes com os cães… - recordar tudo isto pode ser uma forma única de resistir à lobotomia coletiva alimentada pelas grandes máquinas informativas contemporâneas, que elimina subtilmente referências e critérios de juízo. Hoje, cada vez mais, a História é-nos servida como um amontoado informe de flashes sem sentido, diante do qual somos convidados a adotar a explicação mais preguiçosa e superficial como a que vale. Neste quadro do primado do soundbyte, nada tem origens, e muito menos origens complexas. Tudo é simples, linear, a preto e branco, e esgota-se em dois dias de prime time televisivo.
A desmemória é uma estratégia dos neutralizadores da História. Para eles, lembrar porquê e por que não é uma ameaça. Ter consciência das raízes e dos caminhos percorridos e por percorrer é uma potencial subversão. Os cordeirinhos, todos alinhadinhos – mesmo que seja para o matadouro – dispensam bem a memória. Pois bem, nós não. Os oito que a partilham connosco neste livro fazem dele um exercício de serviço público. E assim homenageiam o poeta que escreveu: “As folhas vão-se / e nós também / Não é vento, é movimento / fluir do tempo, amor e morte / agora mesmo e para todo o sempre. Amen.” Esse poeta é Manuel Alegre. E eu tenho muita honra em partilhar esta apresentação e esta convocação da memória com ele